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Treine para o pior dia da sua vida: A preparação tática e a mentalidade de sobrevivência.

  • Foto do escritor: Jordano Alves
    Jordano Alves
  • 2 de mai.
  • 3 min de leitura

Atualizado: 3 de mai.

O preparo para eventos críticos e violentos ainda é negligenciado por grande parte da população civil e até por profissionais da área de segurança. A ausência de treinamento específico para o enfrentamento de situações de alto estresse compromete não apenas a eficácia das respostas defensivas, mas também a sobrevivência de inocentes.

A seguir vou apresentar os pilares da que considero a preparação tática integral, a partir da perspectiva da formação de operadores conscientes e proativos, aptos a atuar em cenários de violência real.


Mentalidade de Combate: o fundamento da sobrevivência

A base de todo operador está em sua mentalidade. O conceito de "mentalidade de combate" refere-se ao desenvolvimento de uma postura de vigilância, prontidão e controle emocional diante do caos. O treinamento técnico é ineficaz se o indivíduo entra em colapso cognitivo ou hesita na tomada de decisão sob ameaça.

Autores como Grossman (2009) e Marshall (1947) destacam a importância da resiliência psicológica e do condicionamento decisório em cenários de confronto. Logo, o treinamento de tiro deve vir acompanhado de cenários simulados, protocolos de reação e modelagem cognitiva do combate.


Defesa Familiar e Residencial: a segurança começa em casa

A segurança domiciliar precisa ser estruturada com base em planos de contingência, protocolos silenciosos de comunicação entre membros da família, definição de zonas seguras e rotas de evacuação. Mais do que equipamentos, a defesa eficaz exige doutrina e instrução para todos os moradores.

A arma de fogo, neste contexto, deve estar acessível, condicionada e operável com rapidez e segurança, respeitando os critérios legais e técnicos de porte e armazenamento defensivo.


Utilização de armamento sob estresse: da técnica à reação automatizada

A literatura em psicofisiologia do combate indica que, sob estresse agudo, a capacidade motora fina é comprometida (Siddle, 1995). Por isso, técnicas como saque velado, recarga emergencial e resolução de panes devem ser treinadas de forma automatizada e contextualizada, simulando variáveis como iluminação precária, interferência auditiva, e presença de terceiros.

A excelência técnica deve ser alcançada ao ponto de permitir ao operador responder com precisão, mesmo em situações onde o raciocínio consciente esteja prejudicado.


APH Tático: a continuidade da luta após o confronto

O Atendimento Pré-Hospitalar Tático (APH-T) visa a estabilização de feridos em ambientes hostis. É imprescindível para civis armados, agentes de segurança e socorristas em áreas de risco.Treinar o uso de torniquetes, curativos hemostáticos, controle de vias aéreas e evacuação sob ameaça é uma extensão lógica da defesa armada.

Segundo estatísticas militares, até 60% das mortes evitáveis em combate derivam de hemorragias não controladas. Assim, dominar protocolos do MARCH e a lógica de “primeiro o que mata mais rápido” é vital.


Combate Veicular: o cenário mais comum e menos treinado

A maior parte das ocorrências de violência armada urbana ocorre em ou ao redor de veículos. Situações de tentativa de assalto, sequestro relâmpago e emboscadas em deslocamento exigem respostas específicas, que envolvem:

  • Posicionamento tático dentro e fora do veículo

  • Extração sob fogo

  • Utilização do carro como cobertura parcial

  • Retirada de não combatentes (familiares, parceiros)

O operador deve compreender a balística veicular e treinar para agir em espaços confinados, com ângulos reduzidos e risco aumentado.



Percebemos então que a preparação para o "pior dia da vida" não é uma expressão metafórica. É um princípio de realidade. O operador que treina com seriedade entende que não se trata de “se” uma crise acontecer, mas “quando” e com que intensidade ela irá se manifestar.Treinar para o pior é um compromisso com a vida, com a família, com a equipe e com a própria missão de proteger.

1 comentário


jislenemara
04 de mai.

Conteúdo de altíssimo nível. É nítido o quanto há estudo, técnica e propósito por trás de cada linha. Um grande passo para quem busca entender o tiro de forma mais consciente e estratégica. Parabéns pelo trabalho 🚀

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